terça-feira, 17 de junho de 2008

Pipoca ou Piruá?




A
transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo de grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.

O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.

O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.

São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.

Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.

Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso de remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.

Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que é capaz.

Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: Bum!

E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.

Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não podem existir coisas mais maravilhosas do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo é a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminando o estouro alegre de pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada.

Seu destino é o lixo.

E você o que é?Uma pipoca estourada ou um piruá?Você mede a altura do tombo? Vive Agosto esperando Setembro?Reflitemos!


Adaptação da crônica "Pìpoca ou Piruá" de Rubem Alves.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom eu adoro pipoca...aqui perto da minha casa tem uma excelente com bacon e tudo muito bom!!!rsrs (sem fazer propaganda)...
Agora falando sério,eu me considero uma pipoca que ainda bem estoutou cedo. Depois de um fogo intenso consegui despertar para a vida e me tornar um ser humano mais completo, preocupado com questões socias, educacionais e políticas que sinceramente nunca me despertaram interesse.
Mas a vida muda de minuto a minuto e nunca é tarde para fazer o bem, refletir sobre o que nós somos é uma tarefa complexa, afinal lidamos com sentimentos como raiva, alegria, tristeza,etc...mas a busca pelo equilibrio deve continuar para que sejamos fortes e determinados.
É engraçado que muitas vezes precisamos passar por fatalidades, acidentes e perdas para podermos olhar a vida com um olhar mais anaítico.Pois logo refletimos preocupados: "Puxa vida,não desejo isso para o meu pior inimigo!"rsrs

abraços!!!!